Estudo destaca importância da pobreza nas condenações criminais

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De acordo com um estudo realizado no Brasil, uma redução significativa da pobreza infantil poderia reduzir o número de condenações penais em quase um quarto. Um artigo sobre o estudo foi publicado na Scientific Reports. Os investigadores utilizaram uma abordagem inovadora que incluiu uma análise de 22 factores de risco que afectam o desenvolvimento humano e entrevistas com 1.905 crianças em dois momentos - uma entrevista inicial para estabelecer uma linha de base (idade média de 10,3 anos) e uma entrevista de acompanhamento sete anos mais tarde (idade média de 17,8 anos). Os investigadores concluíram que a pobreza – amplamente medida por uma combinação do baixo nível de escolaridade do chefe do agregado familiar, baixo poder de compra e...

Laut einer in Brasilien durchgeführten Studie könnte eine deutliche Verringerung der Kinderarmut die Zahl der strafrechtlichen Verurteilungen um fast ein Viertel verringern. Ein Artikel über die Studie ist in Scientific Reports veröffentlicht. Die Forscher verwendeten einen innovativen Ansatz, der eine Analyse von 22 Risikofaktoren umfasste, die sich auf die menschliche Entwicklung auswirken, und Interviews mit 1.905 Kindern zu zwei Zeitpunkten – ein erstes Interview zur Bildung einer Grundlinie (Durchschnittsalter 10,3) und ein Folgeinterview sieben Jahre später (Durchschnittsalter 17.8). Die Wissenschaftler kamen zu dem Schluss, dass Armut – allgemein gemessen an einer Kombination aus geringer Schulbildung des Haushaltsvorstands, geringer Kaufkraft und …
De acordo com um estudo realizado no Brasil, uma redução significativa da pobreza infantil poderia reduzir o número de condenações penais em quase um quarto. Um artigo sobre o estudo foi publicado na Scientific Reports. Os investigadores utilizaram uma abordagem inovadora que incluiu uma análise de 22 factores de risco que afectam o desenvolvimento humano e entrevistas com 1.905 crianças em dois momentos - uma entrevista inicial para estabelecer uma linha de base (idade média de 10,3 anos) e uma entrevista de acompanhamento sete anos mais tarde (idade média de 17,8 anos). Os investigadores concluíram que a pobreza – amplamente medida por uma combinação do baixo nível de escolaridade do chefe do agregado familiar, baixo poder de compra e...

Estudo destaca importância da pobreza nas condenações criminais

De acordo com um estudo realizado no Brasil, uma redução significativa da pobreza infantil poderia reduzir o número de condenações penais em quase um quarto. Um artigo sobre o estudo foi publicado na Scientific Reports. Os investigadores utilizaram uma abordagem inovadora que incluiu uma análise de 22 factores de risco que afectam o desenvolvimento humano e entrevistas com 1.905 crianças em dois momentos - uma entrevista inicial para estabelecer uma linha de base (idade média de 10,3 anos) e uma entrevista de acompanhamento sete anos mais tarde (idade média de 17,8 anos).

Os investigadores concluíram que a pobreza - amplamente medida por uma combinação do baixo nível de educação do chefe do agregado familiar, do baixo poder de compra e do acesso limitado aos serviços básicos - era o único factor relacionado com o crime que poderia ser evitado. Eles usaram estimativas da fração de risco populacional (PARF) para prever a redução potencial nas condenações criminais se uma intervenção precoce bem-sucedida contra a pobreza fosse adotada na vida das crianças.

Num cenário sem pobreza, 22,5% das condenações penais destes jovens poderiam ter sido evitadas. Por outro lado, fatores como gravidez não planejada, prematuridade, amamentação e tabagismo ou consumo materno pré-natal não mostraram associação com futuras condenações criminais.

Compreender as circunstâncias que levaram a esta situação requer uma visão holística dos jovens que cometem crimes e tem em conta uma série de factores evitáveis.”

Carolina Ziebold, autora principal e pesquisadora do estudo, Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo

Ziebold contou com apoio da FAPESP durante sua pesquisa de doutorado. Também recebeu bolsa Jovem Pesquisador Talento da CAPES, coordenação do Ministério da Educação para o aperfeiçoamento da força de trabalho no ensino superior, por meio do Programa de Internacionalização.

Para Ary Gadelha, autor final do artigo, a utilização de uma medida complexa de pobreza que inclui muito mais factores do que o rendimento familiar é um aspecto inovador do estudo. Gadelha é professor de psiquiatria da EPM-UNIFESP e foi orientador do doutorado de Ziebold.

“O estudo levou em consideração as condições de moradia e o acesso a serviços públicos, como saúde ou saneamento, para compreender a pobreza de forma mais abrangente. Isso nos levou a defender soluções mais abrangentes do que simplesmente melhorar a renda.

A abordagem utilizada no estudo é baseada em um método epidemiológico denominado “associação ampla de exposição”, que é semelhante ao método utilizado em estudos de associação genômica ampla (GWAS). “Os estudos de associação de toda a exposição examinam uma ampla gama de exposições potenciais em relação a um único resultado (usando uma abordagem livre de hipóteses)”, escrevem os autores.

Neste caso, acrescentam, a análise incluiu “múltiplas exposições perinatais, individuais, familiares e escolares modificáveis ​​associadas a condenações criminais juvenis para identificar novos alvos potenciais para a prevenção deste fenómeno complexo”. Além disso, argumentam, “se for identificado um factor de risco significativo [como a pobreza], a extensão do seu impacto nas sentenças penais deve ser explicada para informar e orientar os esforços públicos de prevenção do crime”.

Outro estudo liderado por Ziebold com a mesma coorte, publicado em Dezembro de 2021, já tinha encontrado correlações entre a pobreza infantil e uma maior propensão para desenvolver perturbações externalizantes durante a adolescência e início da idade adulta, particularmente nas raparigas. Os investigadores concluíram que a pobreza multidimensional e a exposição a acontecimentos de vida stressantes, incluindo mortes frequentes e conflitos familiares, são factores de risco evitáveis ​​que devem ser abordados na infância para reduzir o impacto dos problemas de saúde mental na vida adulta.

Resultados

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No recente artigo da Scientific Reports, os investigadores sublinham que, embora a pobreza de base fosse o único factor de risco modificável significativamente associado ao crime para as crianças da amostra do estudo, a maioria delas (89%) não tinha condenações penais.

"Queríamos evitar a criminalização da pobreza e mostrar que é um fenómeno complexo. A exposição a esta situação ao longo da vida pode levar a uma tragédia social. O crime é uma questão social e a punição por si só pode não ser adequadamente mais útil nos jovens na criação de oportunidades reais de reabilitação - oportunidades de vida", disse Gadelha.

Apenas uma pequena proporção (4,3%) dos 1.905 participantes entrevistados relataram ter uma condenação criminal no passado, principalmente relacionada com roubo, roubo violento, tráfico de drogas e outros crimes violentos, incluindo um homicídio e uma tentativa de homicídio.

Os participantes foram selecionados do Estudo de Coorte Brasileiro de Alto Risco para Transtornos Psiquiátricos (BHRC), uma grande pesquisa comunitária que incluiu 2.511 famílias com crianças de 6 a 10 anos quando começou em 2010. Todos eram estudantes de escolas públicas em duas grandes capitais brasileiras, São Paulo e Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Até agora foram realizados três inquéritos de acompanhamento, o mais recente em 2018-19. Um quarto começou este ano e está programado para ser concluído em 2024.

O BHRC, também conhecido como Projeto Conexão – Mentes do Futuro, é considerado um dos mais ambiciosos inquéritos de saúde mental infantil já realizados no Brasil. É liderado pelo Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento (INPD), com apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), braço do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Mais de 20 universidades no Brasil e em outros lugares estão envolvidas nas atividades do INPD. O pesquisador principal é Eurípedes Constantino Miguel Filho, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

impacto

Segundo relatório publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em março de 2022, “Crianças e jovens sempre foram os mais vulneráveis ​​à pobreza – e continuam em situação de pobreza financeira, e a pobreza financeira extrema no Brasil era proporcionalmente o dobro da dos adultos”.

Entre 35% e 45%, dependendo da faixa etária, viviam com menos de 5,50 dólares por dia em 2020. A proporção que vivia com menos de 1,90 dólares por dia – o limite da pobreza monetária extrema – era de 12%.

Além disso, segundo o Centro de Pesquisas em Políticas Sociais (FGV Social) da Fundação Getúlio Vargas, a insegurança alimentar atingiu níveis recordes no Brasil no final de 2021, superando a média global e afetando principalmente mulheres, famílias pobres e pessoas de 30 a 49 anos.

“Sabemos que as pessoas ainda não sentiram plenamente os impactos económicos da pandemia, incluindo a insegurança alimentar e a falta de acesso à escolaridade. As consequências da exposição das crianças tornar-se-ão claras no futuro”, disse Ziebold, acrescentando que é necessária mais investigação para compreender como as vulnerabilidades dos locais onde as crianças vivem podem influenciar as taxas de criminalidade juvenil. “Esse tipo de fator foi observado em pesquisas realizadas em outros países, como os Estados Unidos, onde os jovens têm maior probabilidade de cometer crimes se viverem em áreas sem infraestrutura ou com gangues.

Cerca de 46 mil jovens em conflito com a lei foram processados ​​pelo SINASE, o sistema de justiça especial do Brasil para menores infratores, em 2019.

Fonte:

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

Referência:

Ziebold, C., et al. (2022) Fatores de risco modificáveis ​​individuais e familiares para condenação criminal na infância: um estudo de coorte de 7 anos no Brasil. Relatórios científicos. doi.org/10.1038/s41598-022-13975-8.

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