Erros nos cuidados de saúde: cada quinto tratamento acarreta riscos
Segundo estatísticas anuais do Serviço Médico, 74 pacientes morreram em 2022 devido a erros de tratamento. Especialistas pedem relatórios obrigatórios.

Erros nos cuidados de saúde: cada quinto tratamento acarreta riscos
Na Alemanha existem relatórios alarmantes sobre a segurança dos tratamentos médicos. Num evento em Berlim, o Serviço Médico apresentou as suas estatísticas anuais para 2023, que mostram que 75 pacientes morreram no ano passado em consequência de erros graves de tratamento. Estas práticas ilícitas, classificadas como “eventos nunca”, são erros médicos graves que, segundo os especialistas, nunca deveriam ocorrer. Exemplos de tais erros incluem confundir pacientes ou administrar medicamentos incorretamente.
As autoridades de saúde registaram cerca de 150 destes incidentes graves no ano passado. Isso faz parte de um problema maior na área da saúde. Em 2022 registaram-se ainda 84 mortes devido a erros médicos, o que sublinha a urgência da situação.
Procedimentos de relatório e divulgação
O CEO do Serviço Médico, Stefan Gronemeyer, defende um sistema de notificação obrigatório para tais incidentes, uma vez que atualmente não existe um procedimento padronizado. O processo atual é rudimentar: os pacientes que acreditam ter cometido um erro devem entrar em contato com a seguradora de saúde, que então contrata o serviço médico para investigar o caso. Só assim os incidentes entram nas estatísticas. Isto faz com que muitos casos de erros médicos não sejam registrados.
Estatisticamente, os peritos iniciaram uma investigação em quase 12.500 casos em 2023. No entanto, em 71,1 por cento dos casos, não foi possível provar qualquer má conduta por parte do pessoal médico. No entanto, em cerca de 21,5 por cento dos casos, o que corresponde a 2.679 erros de tratamento, os pacientes sofreram danos demonstráveis. Estes números são alarmantes, especialmente porque quase não mudaram durante um longo período de tempo.
Consequências dos erros de tratamento
O impacto de tais erros pode ser devastador. Embora na maioria dos casos (65,5 por cento) os danos sejam apenas temporários, cerca de 29,7 por cento dos pacientes afetados sofrem deficiências permanentes. O Serviço Médico descobriu que 180 das lesões permanentes relacionadas com erros no ano passado foram classificadas como graves, o que significa que os pacientes estão, por exemplo, necessitados de cuidados, cegos ou paralisados. Os especialistas estimam que os danos evitáveis ocorrem em um por cento de todos os tratamentos hospitalares, com cerca de 17.000 mortes evitáveis em hospitais alemães todos os anos.
Outro aspecto preocupante é o número não reportado de erros médicos, que é provavelmente muito superior ao registado. Para aprender com estes incidentes e evitar erros, o Serviço Médico apela a uma monitorização sistemática e à exigência de notificação sob pseudónimo.
As críticas à atual cultura de gestão de erros no sistema de saúde alemão estão a tornar-se cada vez mais fortes. Eugen Brysch, diretor da Fundação Alemã de Proteção ao Paciente, disse que os pacientes na Alemanha são frequentemente deixados em apuros. A cultura de erro exigida não ocorre, o que leva ao processamento inadequado dos incidentes.
No entanto, o governo federal ainda não respondeu de forma sustentável às crescentes exigências de um fundo de dificuldades. Brysch enfatizou que é inaceitável que as partes lesadas muitas vezes tenham que esperar anos pela compensação. O Ministério Federal da Saúde afirmou que os erros de tratamento em clínicas e consultórios já devem ser legalmente registados, mas muitas questões ainda permanecem sem resposta sobre como pode ser concebido um possível fundo de dificuldades.
Um apelo para melhorar a segurança do paciente
Os relatos de erros médicos na Alemanha lançam luz urgente sobre a necessidade de reformas no sistema de saúde. Embora exista um sistema para lidar com erros médicos, é evidente que são necessárias melhorias na transparência e na gestão de erros para garantir maior segurança do paciente. Resta esperar que, através de discussões e medidas mais intensas, ocorram em breve mudanças positivas que reforcem a confiança dos pacientes nos cuidados médicos.
No sistema de saúde, os erros de tratamento representam um problema grave que não só afecta a confiança dos pacientes nas instalações médicas, mas também tem consequências económicas significativas. Um estudo recente mostra que o tratamento de complicações causadas por erros médicos acrescenta custos adicionais ao sistema de saúde. Estes podem surgir de despesas com medidas de acompanhamento, reabilitação e um possível período prolongado de internação hospitalar.
De acordo com um estudo de 2020 da Fundação Bertelsmann, os custos estimados de erros de tratamento evitáveis em hospitais alemães ascendem a vários milhares de milhões de euros anualmente. Um número significativo de pacientes – cerca de 12.000 a 15.000 – é prejudicado todos os anos devido a erros de tratamento. O registo e a análise sistemática destes erros poderiam ajudar a melhorar a qualidade geral dos cuidados médicos na Alemanha.
Melhorar a cultura de segurança nos cuidados de saúde
Para evitar erros médicos, é necessário melhorar a cultura de segurança nas instalações médicas em todo o mundo. Em muitos países, como os EUA e a Grã-Bretanha, já estão estabelecidos sistemas de notificação e gestão de erros que visam aprender com os erros e evitá-los no futuro. A implementação de tais sistemas poderia ajudar a reduzir significativamente o número de “eventos nunca” na Alemanha.
Embora o Ministério Federal da Saúde tenha enfatizado que os sistemas de notificação de erros devem ser implementados, a implementação prática muitas vezes fica aquém das expectativas. Especialistas como Gronemeyer e Brysch não apelam apenas a uma melhor documentação, mas também à formação do pessoal médico e a uma cultura de erro mais aberta, a fim de promover a confiança no tratamento.
Iniciativas e reformas legislativas
Os legisladores estão sob pressão para introduzir reformas concretas para reduzir os erros médicos. Outros países europeus, como os Países Baixos, já introduziram legislação que exige relatórios e análises abrangentes de erros. Esses regulamentos levaram a uma redução significativa na taxa de erro.
Para alcançar tais progressos na Alemanha, é necessário rever as estruturas existentes e adaptá-las, se necessário. A pressão das organizações de pacientes e dos profissionais de saúde poderá levar a que medidas mais rápidas para melhorar a segurança dos pacientes cheguem à mesa política.
No geral, a discussão atual sobre erros de tratamento mostra como é importante levar este tema a sério e trazê-lo para o debate social mais amplo. Esta é a única forma de restaurar e reforçar a confiança dos pacientes nos cuidados médicos a longo prazo.